Em meio a estes tempos sombrios e TEMERosos da política brasileira de 2017, lembramos, talvez não por acaso, que o livro A hora da estrela, da intelectual Clarice Lispector, faz 40 anos de sua publicação (1977). Não por acaso porque, ressalvadas as diferenças, o contexto no qual a novela foi escrita também era repressivo, ditatorial e sumariamente desalentador. Assim, valendo-se de sua arma mais poderosa, a linguagem literária, e já talvez antecipando o que Bhabha viria a nos ensinar depois de que narrar é narrar a nação, a intelectual tratou, sem dó nem piedade, de uma realidade política pouco explorada ainda pela narrativa literária brasileira. Apesar de sua participação na passeata dos 100 mil e de algumas crônicas de protestos, incluindo até mesmo alguns pequenos textos considerados ficcionais como é o caso do conto “Mineirinho”, foi por meio de seu compromisso com a linguagem que Clarice soube se antecipar e dar a melhor resposta possível de como captar a realidade política daquele momento histórico do país. Mesmo passados 40 anos de sua publicação, o livro A hora da estrela traz e apresenta-nos um projeto intelectual arrojado que, entre outras leituras, ajuda-nos a compreender melhor essa realidade política brasileira que não nos cansa de surpreender com suas atrocidades, gatunos e malas.

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Programação do evento

Prezados(as) participantes,

Segue abaixo a programação do evento "IV Colóquio do NECC: A Hora da Estrela Clarice Lispector (40 anos)":

PROGRAMAÇÃO DO “IV COLÓQUIO DO NECC: A HORA DA ESTRELA CLARICE LISPECTOR (40 ANOS)”

LOCAL: ANFITEATRO DO ANTIGO CCHS E SALA 1 DO PPGMEL

LANÇAMENTO DE LIVROS: DURANTE TODO O EVENTO

Quem tem medo de Clarice Lispector? – Edgar Cézar Nolasco
Clarice Lispector Pintora: uma biopictografia – Marcos Antônio Bessa-Oliveira
O que quer dizer cultura: uma leitura de A hora da Estrela - Marta Francisco de Oliveira
A lagarta que não queria virar borboleta ou uma fabula filosófica – Angela Guida
Fronteiras platinas em Mato Grosso do Sul (Brasil/Paraguai/Bolívia) - Edgar Cézar Nolasco, Marcos Antônio Bessa-Oliveira, Vânia Maria Lescano Guerra e Zélia R. Nolasco Dos S. Freire

DIA 18/10 (QUARTA-FEIRA)

PERÍODO MATUTUINO:

8h às 8h15min: ABERTURA: Prof. Edgar Cézar Nolasco (NECC-UFMS/PACC-UFRJ)

A HORA DA ESTRELA CLARICE LISPECTOR

8h 15min às 9h15min

CLARICE LISPECTOR E A CRÍTICA

PROF. Edgar Cézar Nolasco (NECC-UFMS/PACC-UFRJ) TÍTULO DA PALESTRA: CLARICE É MINHA NEBLINA

9h 15min às 9h30min: INTERVALO

CLARICE LISPECTOR E OS AMIGOS

COORDENADOR DA MESA: PROF Edgar Cézar Nolasco (NECC-UFMS/PACC-UFRJ)
9h30min às10h30min: DOUTORANDA Francine Carla de Salles Cunha Rojas (NECC- PPGLETRAS/CPTL/UFMS) e PROF Edgar Cézar Nolasco (NECC-UFMS/PACC-UFRJ). TÍTULO DA PALESTRA: TEORIZAR SOBRE AS CARTAS DO CORAÇÃO: SEM DISCIPLINAS E CONCEITOS

PERÍODO VESPERTINO:

PRIMEIRA MESA:

TRABALHOS ACADÊMICOS SOBRE CLARICE LISPECTOR

13H às 14h e 15min:

COORDENADOR DA MESA: PROFA. DRA. Vânia Maria Lescano Guerra (PPGMEL; PPGLETRAS/ CPTL/UFMS)

1- DOUTORANDA. Laura Cristhina Revoredo Costa (PPGLETRAS/UFMS) E PROFA. DRA. Vânia Maria Lescano Guerra (PPGMEL; PPGLETRAS/ CPTL/UFMS) : O (PER)CURSO IDENTITÁRIO DE MACABÉA: SUBJETIVIDADE E (DES)COLONIZAÇÃO

2- DOUTORANDO. João Paulo Tinoco Machado (PPGLETRAS/UFMS) E PROFA. DRA. Vânia Maria Lescano Guerra (PPGMEL; PPGLETRAS/ CPTL/UFMS) – O SILENCIAMENTO E SEUS EFEITOS DE SENTIDO NO DISCURSO LITERÁRIO: SUBJETIVIDADE E LINGUAGEM

3- MESTRANDA Caroline Bertini Fernandes (PPGMEL/UFMS) e Prof. Drª. Marcia Gomes Marques (PPGMEL/FAALC/UFMS) – CORREIO FEMININO SOB A LEITURA DE LUÍZ FERNANDO CARVALHO- DO SIGNO VERBAL AO VISUAL

14h15mim às 14h e 30min: INTERVALO

SEGUNDA MESA:

A POLÍTICA EM CLARICE LISPECTOR:

14h. 30 min.

COORDENADOR DA MESA: PROF. DR. Edgar Cézar Nolasco

1- Pedro Henrique Alves de Medeiros (NECC-G/UFMS) e PROF Edgar Cézar Nolasco (NECC-UFMS/PACC-UFRJ): REPRESENTAÇÕES DOS INTELECTUAIS BRASILEIROS CLARICE LISPECTOR E SILVIANO SANTIAGO

2- Anny Caroline de Souza Marques (NECC-G./UFMS) e PROF Edgar Cézar Nolasco (NECC-UFMS/PACC-UFRJ): POLÍTICAS DA FICÇÃO EM A HORA DA ESTRELA

CLARICE LISPECTOR E OS AMIGOS:

3- Milena Nolasco Marques Silva (NECC-G./UFMS) e PROF Edgar Cézar Nolasco (NECC-UFMS/PACC-UFRJ): O ÍNTIMO DAS FRANGAS: DIÁLOGO ENTRE CLARICE LISPECTOR E CAIO FERNANDO ABREU

4- Fernando Abrão Sato (NECC-G./UFMS) e PROF Edgar Cézar Nolasco (NECC-UFMS/PACC-UFRJ): AS DIFERENTES DIÁSPORAS DE SI: A VELHICE EM CLARICE LISPECTOR E MARIA VALÉRIA REZENDE

DIA 19/10 (QUINTA-FEIRA)

PERÍODO MATUTINO:

CLARICE LISPECTOR 40 ANOS DEPOIS:

8h às 9h:

COORDENADOR DA MESA: PROFA DRA. Damaris Lima (LETRAS- CAMPO GRANDE/UFMS)

PROFA. DRA. Angela Guida (PPGMEL/UFMS) TÍTULO DA PALESTRA: CLARICE LISPECTOR: UMA ESCRITA PARA ALÉM DA CURVA DA ESTRADA

9H ÀS 9H15MIN: INTERVALO

9h.30min. às 10h. 30 min.

COORDENADOR DA MESA: PROFA. DRA. ANGELA GUIDA (PPGMEL/UFMS)
PROF. DR. Geraldo Vicente Martins (PPGMEL/UFMS). TÍTULO DA PALESTRA: SOBRE SER E QUERER-SER: O PERCURSO MODAL DE MACABÉA

PERÍODO VESPERTINO:

PRIMEIRA MESA

TRABALHOS ACADÊMICOS SOBRE CLARICE LISPECTOR:

13h. às14h.15min.

COORDENADOR DA MESA: PROF. DR. Edgar Cézar Nolasco

1- MESTRANDO José Gomes Pereira (NECC-PPGMEL/UFMS) e PROF Edgar Cézar Nolasco (NECC-UFMS/PACC-UFRJ): UMA CONVERSA ENTRE A FILOSOFIA E A LITERATURA: A ANGÚSTIA EXISTENCIAL EM CLARICE LISPECTOR

2- MESTRANDA Viviani Cavalcante de Oliveira Leite (NECC-PPGMEL/UFMS) e PROF Edgar Cézar Nolasco (NECC-UFMS/PACC-UFRJ): DE ESTRELA À FLOR DE MULUNGU: SOBRE UMA AMIZADE LITERÁRIA

3- MESTRANDO Tiago Osiro Linhar (NECC-PPGMEL/UFMS) e PROF Edgar Cézar Nolasco (NECC-UFMS/PACC-UFRJ): ENTRE O CENTRO E A MARGEM: OLHARES SOBRE A HORA DA ESTRELA, DE CLARICE LISPECTOR

4- MESTRANDO Washington Batista Leite (NECC-PPGMEL/UFMS) e PROF Edgar Cézar Nolasco (NECC-UFMS/PACC-UFRJ): CLARICIANOS: UMA HOMENAGEM

14h15min. às 14h. 30 min. : INTERVALO

SEGUNDA MESA

CLARICE LISPECTOR E A CRÍTICA:

14h.30min. às 16h. 30min.

COORDENADOR DA MESA: DOUTORANDA Francine Carla de Salles Cunha Rojas (NECC- PPGLETRAS/CPTL/UFMS)

1- PROF. DR. Rony Marcio Cardoso Ferreira (UNB/UEMS): A TRADUTORA E A CRÍTICA: NOTAS EM TEMPO DE LUTO

2- MESTRANDA Rebeca Cacho de Souza (PPGMEL/UFMS) e Prof. Dr. Rony Márcio Cardoso Ferreira (UNB/UEMS): SILVIANO SANTIAGO LEITOR DE CLARICE LISPECTOR: RELAÇÕES INTEMPESTIVAS

3- MESTRANDA Débora da Silva Pitaluga (UEMS/PPMEL/UFMS) e PROF. DR. Rony Marcio Cardoso Ferreira (UNB/UEMS): CLARICE LISPECTOR E AGATHA CHRISTIE: TRADUÇÃO, SOBREVIDA E HOSPITALIDADE

4- GRADUANDO Rodrigo Pessoa Oliveira (G-LETRAS/UEMS) e Prof. Drª. Maria Helena de Queiroz (UEMS): A CRIANÇA E A DESCOBERTA DO MUNDO: A DOR E A ALEGRIA DE SER O QUE É

DIA 20/10 (SEXTA-FEIRA)

PERÍODO MATUTINO:

8h. às 9h.15min.

CLARICE LISPECTOR 40 ANOS DEPOIS

COORDENADOR DA MESA: PROF. DRA Marta F. de Oliveira (LETRAS-COXIM/UFMS)
PROF DR. Marcos Antônio Bessa-oliveira (UEMS/NAV(r)E) TÍTULO DA PALESTRA: CLARICE LISPECTOR PINTORA – INTERTEXTUALI(denti)DADE – VIDA-VIVA, OBRA-VIVA AINDA QUE VIDA-MORTA 40 ANOS DEPOIS

9h.15min. às 9h.30min. : INTERVALO

9H. 30min. às 10h. 30min.

CLARICE LISPECTOR E A CRÍTICA

COORDENADOR DA MESA: PROF DR. Marcos Antonio Bessa-Oliveira (UEMS/NAV(r)E)
PROFA DRA.Marta Francisco Oliveira(LETRAS-COXIM/UFMS) TÍTULO DA PALESTRA: RASTROS DE UMA VIDA ESCRITA/INSCRITA NA POÉTICA DE EXÍLIO DE CLARICE LISPECTOR

PERÍODO VESPERTINO:

PRIMEIRA MESA

AS VÁRIAS PERSONAE DE CLARICE LISPECTOR

13H às 14h15min

COORDENADOR DA MESA: Doutoranda Francine Carla de Salles Cunha Rojas Rojas (NECC- PPGLETRAS/CPTL/UFMS).

1- GRADUANDA Marina Maura de Oliveira Noronha (NAV(r)E)/UEMS) e PROF DR. Marcos Antônio Bessa-oliveira (UEMS/NAV(r)E): A HORA (DO CORPO-CÊNICO-POLÍTICA) DA ESTRELA MACABÉA EM CLARICE LISPECTOR

2- GRADUANDO Juliano Ribeiro de Faria (NAV(r)/UEMS) e PROF DR. Marcos Antônio Bessa-oliveira (UEMS/NAV(r)E) : CLARICE LISPECTOR: A PULSÃO DE MORTE DE XAVIER, O CORPO SoFrido Kahlo NA CONTEMPORANEIDADE

3- GRADUANDA Francisca Luana Rolim Abrantes (G- IFPB) e Profa. Ma. Risonelha de Sousa Lins (IFPB): O ENIGMA É O OUTRO: UMA LEITURA DAS RELAÇÕES SOCIAIS NOS CONTOS A BELA E A FERA OU A FERIDA GRANDE DEMAIS E A LÍNGUA DO P, DE CLARICE LISPECTOR

4- MESTRANDO Raul Gomes Da Silva (PPGMEL/UFMS) e Cíntia Naiara de Souza Melo (SED/SEMED/MS): LUGARES E NÃO LUGARES DO FEMININO EM A HORA DA ESTRELA, DE CLARICE LISPECTOR

14H15MIN: ENCERRAMENTO

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Lançamento de livros no IV Colóquio do NECC


Serão lançados os livros  "O que quer dizer cultura: uma leitura de A hora da Estrela" da autora Marta Francisco de Oliveira, "A lagarta que não queria virar borboleta: ou uma fabula filosófica" de Angela Guida e "Fronteiras platinas em Mato Grosso do Sul (Brasil/Paraguai/Bolívia)" dos professores Edgar Cézar Nolasco, Marcos Antônio Bessa-Oliveira, Vânia Maria Lescano Guerra e Zélia Nolasco Nolasco.   







domingo, 17 de setembro de 2017

Resumos das apresentações - parte II

Prezados(as) amigos(as) e demais interessados(as),

Seguem mais resumos dos trabalhos que serão apresentados no evento "IV Colóquio do NECC: A Hora da Estrela Clarice Lispector (40 anos)"





RASTROS DE UMA VIDA ESCRITA/INSCRITA NA POÉTICA DE EXÍLIO DE CLARICE LISPECTOR

Marta Francisco de Oliveira (UFMS)
e-mail: martisima@gmail.com

RESUMO: O objetivo desta comunicação é analisar como a trajetória exílica se torna uma marca textual perceptível na obra de Clarice Lispector através de personagens que, embora díspares e únicos em suas composições, agregam em si o traço compartilhado que, independentemente de sua condição e circunstâncias narrativas, formam o compósito que se pode chamar de poética de exílio em Lispector. De fato, a própria vida da escritora se inscreve pelos mesmos meandros desta poética, ao passo que também se escreve, ficcionalmente narrada, em seus variados textos, dissimulada, mascarada, diluída e profundamente arraigada na trama de narrativa da escritora. Neste estudo, interessa-nos identificar os rastros de composição textual clariciana que evidenciam que, ao lado da narrativa de cunho biográfico de Elisa Lispector, é erigida uma reconstrução poético-visual da história familiar e pessoal de Clarice, adentrando sua obra e constituindo sua própria narrativa poética de exílio.


A CRIANÇA E A DESCOBERTA DO MUNDO: “A DOR E A ALEGRIA DE SER O QUE É”

Rodrigo Pessoa Oliveira
(UEMS)
Maria Helena de Queiroz
(UEMS)
e-mail:helenetl@yahoo.com.br


Resumo: este trabalho propõe uma análise da infância a partir da leitura de dois contos: Nessa poeira não vem mais seu pai, de Augusto César Proença, inserido na obra Rodeio a céu aberto (2009), e Restos de carnaval, de Clarice Lispector, presente no livro Felicidade Clandestina (1971). Por intermédio da aproximação do eixo temático dessas narrativas, que gira em torno do universo infantil, é possível afirmar que ele se constrói de forma bastante realista, a partir de imagens da infância em situações de desequilíbrio, em seus momentos de aprendizagem do mundo. Neste, a harmonia se ausenta, o que favorece o estado crítico do ser criança que precisa aprender a lidar com a sua dor, dor que aparecerá, por exemplo, no sentimento de abandono que a “morte” propicia. Desse modo, essas imagens não são desenhadas de forma idealizada: em sua solidão, e intentando se proteger, a criança cria, em paralelo a uma vida de sofrimento, um mundo sonhado, que lhe acolhe e acalma, em instantes de felicidade. Compreendemos que a infância, tema comumente relegado à literatura infantil, encontra na obra de grandes autores, terreno de reflexão acerca das suas (des)venturas,  e que propicia, também à nós, adultos, o conhecimento da própria natureza humana, uma vez que reflete a história de vida de todo ser. Para desenvolver esse pensamento, contaremos com o apoio teórico de escritores como Gaston Bachelard, Benedito Nunes, Nadia Gotlib e Tânia Carvalhal. Este último nome assinala que o trabalho será desenvolvido sob à luz da teoria do estudo comparado.     
Palavras-chave: Infância; Literatura Comparada; Clarice Lispector.

LUGARES E NÃO LUGARES DO FEMININO EM A HORA DA ESTRELA, DE CLARICE LISPECTOR

Autora: Cíntia Naiara de Souza Melo (SED/SEMED/MS)

Coautor: Raul Gomes Da Silva (UFMS/CAPES. Membro do Grupo de Pesquisa Espaço, Literatura e outras Artes UnB/CNPq)

Resumo: Passados exatos quarenta anos da publicação de A hora da estrela, a narrativa de Clarice Lispector continua provocando novas leituras e análises no campo da pesquisa literária brasileira. Isso ocorre porque as significações do texto ficcional modificam-se de acordo com o deslocamento temporal e espacial do olhar do leitor acerca o objeto artístico. Tal olhar é sempre novo quando considerado que o contexto social, político e literário transformam-se constantemente em razão da própria vicissitude humana. Diante disso, este trabalho pretende revisitar a referida obra com o intuito de observar os lugares e os não lugares do feminino a partir da análise da personagem protagonista Macabéa. Nesse percurso em direção à obra clariciana o lugar é compreendido segundo relações de posicionamento e localização, ou seja, enquanto espaço que é não só físico, mas, especialmente, discursivo. Os textos Gênero: uma categoria útil para a análise histórica (1989), de Joan Scott, e Teorias do Espaço Literário, de Brandão (2013) auxiliam, sumariamente, o desenvolvimento deste estudo.

Palavras-chave: feminino; lugar; não-lugar; espaço; discurso.


O (PER)CURSO IDENTITÁRIO DE MACABÉA: SUBJETIVIDADE E (DES)COLONIZAÇÃO

Laura Cristhina Revoredo Costa (PG/UFMS)

Vania Maria Lescano Guerra (UFMS)

RESUMO: Temos por objetivo estudar os efeitos de sentidos que emergem do discurso literário de Clarice Lispector, especificamente da tradução espanhola La hora de la estrella, realizada por Ana Poljak (“A hora da estrela”). Interessa-nos entender a constituição identitária da personagem feminina Macabéa e problematizar as representações sociais e as relações de poder, na investigação das práticas de subjetivação desse discurso, ligadas à constituição da identidade da mulher. Para isso, a fundamentação transdisciplinar traz a perspectiva discursivo-desconstrutivista (CORACINI, 2007), o suporte teórico-metodológico foucaultiano arqueogenealógico (1987), além do panorama pós-colonialista (MIGNOLO, 2003). Como resultados preliminares, verificamos que na identificação de Macabéa destacam-se, como marcas subjetivas, a profissão de datilógrafa, a questão da virgindade, a ignorância/insignificância na sociedade da época e a busca de identificação com os ícones simbólicos transnacionais como, por exemplo, a Coca-Cola, o McDonald e Marylin Monroe. Observamos que a virgindade, para a personagem, constituía uma forma de poder, via resistência à sociedade constituída de sua época, na qual ela fazia parte da massa subalterna. Vale ressaltar que este trabalho, ao examinar a tradução para a língua espanhola, tem por meta, também, entender a (des)colonização e a transculturação, assim como expandir a discussão de temas cada vez mais recorrentes na cultura como exclusão e preconceito. 

O SILENCIAMENTO E SEUS EFEITOS DE SENTIDO NO DISCURSO LITERÁRIO: SUBJETIVIDADE E LINGUAGEM

João Paulo Tinoco Machado (PG/UFMS)

Vania Maria Lescano Guerra (UFMS)

Temos por meta problematizar os efeitos de sentido do discurso literário de Clarice Lispector, a partir do estudo da tradução inglesa de “Água viva”, por Stefan Tobler. A análise está amparada pela Análise de Discurso de origem francesa, que traz o caráter de equivocidade da língua e constitui-se, desse modo, como um lugar teórico de reflexão sobre a interpretação e a multiplicidade dos sentidos. A reflexão acerca da linguagem, do funcionamento de seus sentidos, encontra no discurso literário um espaço privilegiado para sua existência. O silêncio, elemento fundamental à significação emerge como a condição que torna possível o entendimento da não transparência da linguagem (ORLANDI, 1986). Por meio do silenciamento podemos chegar a uma multiplicidade de sentidos que compõe o processo discursivo, trazendo o carácter polissêmico e incompleto da linguagem. Temos por hipótese de pesquisa que a escritora Clarice Lispector apresenta nessa sua obra uma farta reflexão sobre a linguagem, o que nos leva a compreender o modo como a incompletude da linguagem, intrínseca ao silêncio, funciona em seu processo discursivo. Consideramos que a obra “Água Viva” constitui um discurso literário que rompe com a prosa realista predominante à época, início do século XX, pela forma como é estruturado, sem início, meio e fim, o que nos leva a considerar que nele a temática é a linguagem, sua função simbólica e a produção de sentidos. Para nós, cada leitura só pode ser considerada aceitável apenas dentro de uma determinada situação e perspectiva, porque o sujeito lê o que lê a partir de tudo o que o constitui como sujeito: seu inconsciente, sua história, sua cultura, sua ideologia (DERRIDA, 1995).


O ENIGMA É O OUTRO: UMA LEITURA DAS RELAÇÕES SOCIAIS NOS CONTOS A BELA E A FERA OU A FERIDA GRANDE DEMAIS E A LÍNGUA DO P, DE CLARICE LISPECTOR

Francisca Luana Rolim Abrantes
(Curso Superior de Letras, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba-Campus Sousa);
E-mail: luana_abrantes@hotmail.com

Profa. Ma. Risonelha de Sousa Lins
(Curso Superior de Letras, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba-Campus Sousa);
E-mail: risonelha@gmail.com

RESUMO: Clarice Lispector, escritora de vasta produção literária, correspondente a romances, contos, crônicas e livros infantis, tem sua obra analisada, de modo geral, pelas temáticas existenciais. Durante muito tempo, foi criticada, por apresentar os problemas sociais a partir das reações do sujeito que os vive, fugindo das propostas da geração de 30. Entretanto a sua obra ganhou novos enfoques na contemporaneidade, uma vez que aspectos sociais como violência física e simbólica, desigualdades sociais, hipocrisias e desajustes são conflitos reveladores em suas narrativas. Para o crítico Luiz Antônio Magalhães (2001), uma obra tão abrangente como a dessa escritora não deve fugir ao desafio analítico das relações sociais. Assim, neste ano de 2017, quando a obra A hora da Estrela completa seus 40 anos, questões como miséria, pobreza e discriminação, diluídas no processo de construção do estético clariceano, surgem como uma nova forma de visualizar a situação de Macabéa, nordestina, apontada pelo narrador como um sujeito “incompetente para a vida”. Essa personagem como tantas outras evidenciam as percepções do sujeito em relação ao espaço e as relações que o cercam. Neste sentido nos questionamos: a análise das relações sociais pode lançar luz sobre outros aspectos da obra de Clarice Lispector? A observação do esforço das personagens dentro das relações eu-outro pode revelar aspectos sociais do drama da personagem? Com base em tais questionamentos, pretendemos abordar neste artigo o aspecto social das relações entre os personagens das narrativas “A Bela e a Fera ou a Ferida Grande Demais”, da obra A Bela e a Fera e “A língua do P", de A via Crucis do Corpo, tomando como base a categoria do espaço. A análise parte dos pressupostos teóricos de Lúcia Helena (1997), Benedito Nunes (1989), Olga de Sá (1979) e Nádia Batella Gotlib (1994), dentre outros pesquisadores da obra da referida escritora. O estudo é de caráter bibliográfico e se fundamenta no exame das relações estabelecidas nos limites do texto.

Palavras- chave: Clarice Lispector; Relações sociais; Espaço.



CLARICE É A MINHA NEBLINA

Edgar Cézar NOLASCO (NECC-UFMS; PACC-URFJ)
E-mail: ecnolasco@uol.com.br

RESUMO: Há quase quarenta anos que nutro uma amizade indestrutível e, ao mesmo tempo, produtiva por Clarice Lispector. Teve a morte no começo de tudo, mas eu ainda não sabia da existência da indesejada de todos no meio de nosso caminho. Se, nos primeiros anos do encontro, não passava de um jovem leitor apaixonado pelo romance Perto do coração selvagem, nos anos seguintes em diante detive-me noites afora em decifrar os mistérios dos sentidos que achava estar depositados dentro de sua escritura. Nesses últimos 40 anos, descobri que Clarice é meu sintoma, assim como a teoria que articulo a partir de meu lócus biográfico cultural. Há uma Clarice que sobrevive em mim, que sobrevive a partir de mim. É dessa persona clariciana que quero falar em meu texto. Quero falar de uma Clarice a partir de mim.

Resumo das comunicações

Prezados(as) amigos(as),

É com grande prazer que começamos a divulgar os resumos aceitos e que serão apresentados durante o evento "IV Colóquio do NECC: A Hora da Estrela Clarice Lispector (40 anos)":


POLÍTICAS DA FICÇÃO EM A HORA DA ESTRELA

Anny Caroline de Souza Marques
(UFMS. NECC)

Edgar Cézar Nolasco
(UFMS. NECC)

RESUMO: Este trabalho visa estabelecer um debate teórico-crítico, no campo literário, da obra A hora da estrela da escritora brasileira Clarice Lispector, publicado em 1977. Em comemoração aos 40 anos de publicação deste livro magistral − o qual narra a história ficcional de uma pobre jovem nordestina na cidade do Rio de Janeiro − realizaremos uma leitura singular a partir de nosso lócus fronteiriço. Este livro foi o único trabalho da escritora no qual tratou, por assim dizer, do social no país. A leitura a ser feita será da segunda edição, lançada em 2017, em Língua Portuguesa (Brasil) da respectiva obra. O trabalho trará discussões a respeito dos acontecimentos que permaneceram durante esses 40 anos e que ainda se mantêm, no âmbito social e político; além de principiar uma aproximação metafórica entre a escritora, os personagens do romance e nossas sensibilidades locais (Mignolo), viável por meio desse recorte. Esse trabalho respalda-se teoricamente em autores como Eneida Maria de Souza em Janelas Indiscretas (2011), Edgar Cézar Nolasco em Caldo de Cultura (2007), Cadernos de Estudos Culturais: Crítica biográfica (2010) e Walter Mignolo em Histórias locais\Projetos Globais (2003).


Palavras-chave: Crítica Biográfica; A hora da estrela; Política.


AS DIFERENTES DIÁSPORAS DE SI: A VELHICE EM CLARICE LISPECTOR E MARIA VALÉRIA REZENDE


Fernando Abrão Sato (NECC/UFMS)
Edgar Cézar Nolasco (NECC/UFMS; PACC/UFRJ)


RESUMO: Em literatura, a velhice é encenada sob diferentes perspectivas de modo secundário nas narrativas permeadas pelo tema da memória, do esquecimento e das lembranças. Em contrapartida, são apenas em alguns relatos (contos e romances) que o tema é abordado em primeiro plano. Nessa direção, nosso objetivo é trabalhar as diásporas bio-geográficas equacionadas pela perda identitária por meio da leitura comparatista entre os contos “Viagem a Petrópolis” e “Feliz aniversário”, de Clarice Lispector, com o romance Quarenta Dias (2014), de Maria Valéria Rezende. Para isso, a leitura comparatista se fundamenta na crítica biográfica fronteiriça (NOLASCO, 2015), pois, a partir do olhar aguçado das intelectuais, a velhice é analisada e problematizada sob o prisma do abandono, da perda da liberdade individual, da marginalização dentro da própria família levada às últimas consequências como a vida em situação de rua. Assim sendo, a leitura se fundamenta na noção de “diáspora” formulada por Stuart Hall (2006); pelo sentido de “precursor” postulado em “Kafka e seus precursores”, de Jorge Luis Borges; atravessados pela noção de “diferença colonial”, Mignolo (2003), pelos ensaios de Eneida Maria de Souza (2002;2011) e pela obra Mal de arquivo (2001), de Jacques Derrida. Os resultados apontam, pois, que o romance contemporâneo de Maria Valéria Rezende transformam, atualizam e lançam ao futuro as heranças literárias e intelectuais (DERRIDA) ao ressignificar no romance-diário um tema subalterno na literatura brasileira - trabalhados de modo condensado nos contos claricianos - ao tensionar a perda identitária, o abandono e a amargura renovando-o num panorama maior como a perda identitária gradativa ocasionada pela diáspora e pelo deslocamento bio-geográfico.

PALAVRAS-CHAVE: Velhice; Diáspora; Herança


O ÍNTIMO DAS FRANGAS: DIÁLOGO ENTRE CLARICE LISPECTOR E CAIO FERNANDO ABREU


Milena Nolasco Marques Silva (NECC/UFMS)
Edgar Cézar Nolasco (PACC/UFRJ – NECC/UFMS)

RESUMO: Este artigo pretende analisar a relação entre Clarice Lispector e Caio Fernando Abreu e à produção infantil dos escritores, que são importantes devido ao caráter reflexivo e representativo que possuem. Nesse seguimento, o objetivo é configurar a relação entre os autores privilegiando a obra infantil e, por conseguinte, a relação de amizade entre Caio e Clarice Lispector mediado pelas respectivas obras As Frangas (2001) e A vida Íntima de Laura (1999), tendo em vista a admiração e afeto de Caio por Clarice; as rememorações que ambos reproduzem, principalmente da infância, o que demonstra a forte ligação e semelhança entre vidas e obras. Os autores possuem uma estreita ligação com seus personagens, sobretudo porque eles contam fatos vividos através deles, além de ter uma relação muito grande com os bichos em geral e as galinhas que fizeram parte da infância de ambos autores, essa ligação será estabelecida por intermédio do bios dos autores. Para certificar as hipóteses dos vínculos concebidos, isto será efetuado por meio de um raciocínio comparatista, em que estabelecemos relações metafóricas e biográficas entre os escritores Caio Fernando Abreu e Clarice Lispector, levando em conta outros textos documentais como cartas e textos biográficos, para enaltecer e aproximar criticamente a produção intelectual dos escritores. Isto é possível devido à crítica biográfica pós-colonial, que alicerça nossa pesquisa, pois permite a relação entre vida e obra, bem como possibilita pensar o aspecto político-social presente no diálogo entre os escritores nas obras infantis estudadas.

Palavras-chave: Crítica biográfica; Clarice Lispector; Caio Fernando Abreu.


REPRESENTAÇÕES DOS INTELECTUAIS BRASILEIROS CLARICE LISPECTOR E SILVIANO SANTIAGO


            Pedro Henrique Alves de Medeiros
(Graduando da UFMS - NECC)

Edgar Cézar Nolasco
(Professor da UFMS - NECC)

Este trabalho tem por objetivo estabelecer um diálogo crítico entre Clarice Lispector e Silviano Santiago a partir das noções de intelectual propostas por Edward W. Said em Representações do intelectual (2005) e “A política em Clarice Lispector” (2014) de Silviano Santiago. A partir do texto supracitado do escritor mineiro, buscaremos discutir o papel político de Clarice Lispector em A hora da estrela (1977) comparando-o ao de Silviano na crítica e literatura brasileiras. Para tal, nos utilizaremos da crítica biográfica fronteiriça corroborada pelos escritos de Edgar Cézar Nolasco, Eneida Maria de Souza, Walter Mignolo e Diana Klinger. Nesse sentido, nossa leitura é pensada e erigida a partir da fronteira-Sul, tanto territorial quanto epistemológica, e nosso biolócus (bios + lócus) aquilata todas as discussões propostas. Por fim, algumas das obras utilizadas são: CADERNOS DE ESTUDOS CULTURAIS, Perto do coração selbaje da crítica fronteriza (2013), Crítica cult (2002), Janelas indiscretas (2012), Histórias locais/projetos globais (2002), Aos sábados pela manhã (2013) e Escritas de si, escritas do outro (2012).

Palavras-chave: Silviano Santiago; intelectual; Política


TEORIZAR SOBRE AS CARTAS DO CORAÇÃO: SEM DISCIPLINAS E CONCEITOS


Francine Carla de Salles Cunha Rojas
(Doutoranda/UFMS. NECC)

Edgar Cézar Nolasco
(Professor da UFMS - NECC)


RESUMO: Este artigo tem como objetivo delinear concepções de carta a partir das correspondências de Fernando Sabino e Clarice Lispector em Cartas perto do coração (2011). Nesse sentido a discussão se configura como uma busca por construir o que se entende por teorização epistolar, a fim de consolidar o gênero. Para tanto foram elencados três pontos basilares da discussão proposta, o primeiro deles é que cada carta carrega mais traços do bios do remetente do que do destinatário, o que entrevê que os traços biográficos dos correspondentes estão imbrincados na teorização e que, portanto, o pensamento teórico acerca das cartas tem seu início pelas mãos de seus missivistas. O segundo ponto diz respeito a não conceitualidade da teorização uma vez que, se cada remetente possui uma concepção do que a carta é, a eleição de um conceito de carta obedeceria mais ao desejo de padronização. Por fim, o último ponto elencado abarca os anteriores ao indicar que a teorização epistolar é, sobretudo, sem disciplina. Algumas das obras que embasam a reflexão são O que é um autor? (1992), CADERNOS DE ESTUDOS CULTURAIS – Crítica Biográfica (2010), Escritas de si, escritas do outro (2012), Janelas Indiscretas (2011), Histórias locais/projetos globais (2003), Teoria da não conceitualidade (2013) e Teorias sin disciplina (1998).

Palavras-chave: Cartas; Não conceitualidade; Indisciplina.


UMA CONVERSA ENTRE A FILOSOFIA E A LITERATURA: A ANGÚSTIA EXISTENCIAL EM CLARICE LISPECTOR

José Gomes Pereira
Mestrando PPGMEL/UFMS
e-mail:josegomespereira13@gmail.com

Dr. Edgar Cesar Nolasco (ppgmel/ufms)

RESUMO: Desde seus primeiros textos, Clarice Lispector despertou a atenção da crítica literária. Foi aproximada aos grandes escritores da literatura. O presente artigo pretende estabelecer diálogos entre a Filosofia e a Literatura lispectoriana, especialmente no que tange à temática do existencialismo pulsante em vários de seus textos. Defendendo a perspectiva de que não existe uma fronteira rígida entre as disciplinas, mas que elas podem estabelecer diálogos, discussões entre si e que são fundamentais as trocas de saberes no contexto atual, proponho uma aproximação entre os escritos da autora e o existencialismo filosófico. Interveniente de uma crítica que se voltou para questionar o mundo, a política, a sociedade e as verdades religiosas e epistemológicas da época, a autora escreve com as marcas de um período em que pensar teoricamente era sinônimo de angustiar-se. Para tanto, vou erigir uma crítica aportando-me nos seguintes textos: CADERNOS DE ESTUDOS CULTURAIS – Crítica Biográfica (2010), Escritas de si, escritas do outro (2012), Histórias locais/projetos globais (2003), O drama da linguagem (1989), O existencialismo é um humanismo (1973) e O ser e o Nada (1998).

Palavras-chave: Clarice Lispector; Existencialismo; Angústia.


DE ESTRELA À FLOR DE MULUNGU: SOBRE UMA AMIZADE LITERÁRIA

Viviani Cavalcante de Oliveira Leite
(UFMS/NECC)
E-mail:vivianicoleite@hotmail.com

Edgar Cézar Nolasco
(UFMS/NECC)
E-mail:ecnolasco@uol.com.br

RESUMO: Neste ano de 2017, o pequeno grande livro de Clarice Lispector, A hora da estrela (1997), completa exatos quarenta anos. Desde de então, muito já se escreveu sobre tal livro, mostrando, entre outros pontos, o diálogo com a tradição literária brasileira que o mesmo propõe. Um desses trabalhos, ou leituras, é o conto da escritora mineira Conceição Evaristo. Intitulado “Macabéa, Flor de Mulungu” no qual a escritora contemporânea recria a miserável e virgem jovem alagoana, fazendo nascer a flor de mulungu trinta e cinco anos após a ascensão da estrela. Em vista disso, este trabalho propõe uma leitura comparatista das duas narrativas aqui mencionadas, enfatizando as semelhanças na diferença entre suas respectivas protagonistas. Para tal reflexão serão considerados os apontamentos já pensados pela crítica e a presença de uma amizade literária entre as escritoras referidas. Destaca-se como corpus teórico para embasamento desta leitura aqui proposta, as obras: HISTÓRIAS LOCAIS/PROJETOS GLOBAIS (2003) DE Walter Mignolo, CRÍTICA CULT (2002) de Eneida Maria de Souza, CADERNOS DE ESTUDOS CULTURAIS – Crítica Biográfica (2010), POLÍTICAS DE AMIZADE (2003) de Jacques Derrida e PARA UMA POLÍTICA DE AMIZADE (2000) de Francisco Ortega.

Palavras-chave: Clarice Lispector; Conceição Evaristo; Macabéa; amizade literária


ENTRE O CENTRO E A MARGEM: OLHARES SOBRE A HORA DA ESTRELA, DE CLARICE LISPECTOR

Tiago Osiro Linhar (NECC/UFMS)
Edgar Cézar Nolasco (PACC/UFRJ – NECC/UFMS)

Resumo: Este trabalho propõe uma análise acerca da obra “A hora da estrela” de Clarice Lispector, sob o viés teórico da pós-colonialidade. Para tanto tomaremos como objeto de estudo a relação entre os personagens Rodrigo S.M e Macabéa, através dos quais será abordado o posicionamento do sujeito que produz um discurso hegemônico e do que está apenas destinado a encená-lo.  Ainda que estes pertençam a uma mesma história local – a da região Nordeste do Brasil – estão divididos por interesses distintos na novela. Portanto, a partir desta premissa nos deteremos ao modo como Rodrigo S.M (produtor de um discurso) transmite ao leitor suas impressões com relação ao Outro, aos que habitam à margem no contexto social, neste caso, ao retirante nordestino. Como corpus teórico lançaremos mão de estudiosos como Hugo Achugar, Lúcia Sá e Edgar Cézar Nolasco.

Palavras-chave: Pós-colonialidade; nordestino; minorias.


CLARICIANOS: UMA HOMENAGEM


Washington Batista Leite
PPGMEL/NECC-UFMS
E-mail: tonbatistta@gmail.com

Edgar Cézar Nolasco
PACC/UFRJ/NECC-UFMS
E-mail:ecnolasco@uol.com.br

RESUMO: Este trabalho tem por objetivo apresentar as produções intelectuais realizadas no Núcleo de Estudos Culturais Comparados (NECC) com temáticas relacionadas a escritora Clarice Lispector. Em meio a esta homenagem prestada pelo NECC aos 40 anos de morte de escritora Clarice Lispector, não podemos esquecer que o grupo de pesquisa está a fazer 10 anos. Com trabalhos inéditos e orientados pelo professor Dr. Edgar Cézar Nolasco e com um trabalho intelectual arrojado e que contribuíram para a crítica literária brasileira, elencamos quatro trabalhos com leituras distintas e que afiançam a seriedade e compromisso intelectual do grupo. Para tanto, trabalharemos as dissertações defendidas no Programa de Pós-graduação Mestrado em Estudos de Linguagens dos Claricianos intituladas: ENTRE BIOS E ESPECTROS: (des)arquivando as colunas femininas de Clarice Lispector, de William Rolão Borges da Silva; CLARICE E O SILÊNCIO: A LINGUAGEM EM A PAIXÃO SEGUNDO G.H de Luiza de Oliveira; CLARICE LISPECTOR ENTRE A PINTURA E A ESCRITURA DE ÁGUA VIVA: UM RECORTE COMPARATIVO-BIOGRÁFICO-CULTURAL de Marcos Antônio de Oliveira; ENTRE ESTRELAS, RENDEIRAS E DATILÓGRAFAS: um exercício de tradução em Clarice Lispector de Rony Marcio Cardoso Ferreira e CLARICE / FERNANDO / FRANCINE: amizades de entrevidas críticas de Francine Carla de Salles Cunha Rojas na tentativa revisitar o arquivo de pesquisa do NECC, de homenagear Clarice e os neccenses que tiveram sua hora da estrela.

Palavras-chave: Claricianos; NECC; Clarice Lispector.



CLARICE LISPECTOR – INTERTEXTUALI(denti)DADE – VIDA-VIVA, OBRA-VIVA AINDA QUE VIDA-MORTA 40 ANOS DEPOIS

Prof. Dr. Marcos Antônio Bessa-Oliveira – UEMS/NAV(r)E



RESUMO: Clarice Lispector funda seu processo criativo na literatura publicando em 1944 “Perto do Coração Selvagem”, por volta de 1970 Clarice-pintora experimenta o processo criativo com tintas e colas em suportes variados. Abandonando a ideia primeira de que um texto escritural sempre antecede ao pictórico no processo criativo de qualquer artista, podemos dizer – baseados em bibliografias atualizadas –, que o processo artístico da pintora e escritora Clarice Lispector antes está para sua vida biográfica. Portanto, este trabalho discutirá a ideia de que pintura ou escritura primeiro são textos-vida da artista para construção do processo poético. Ou seja, se por um lado a Teoria Literária defende o texto escritural e a Teoria da Arte defende o texto pictural, nos é possível dizer que teoria(s) artística(s) outras defenderia(m) o texto biográfico – no nosso caso em questão biopictográfico como primeiro.

Palavras-chave: Clarice Lispector; Pintura; Literatura; Biopictografia.


CLARICE LISPECTOR: UMA ESCRITA PARA ALÉM DA CURVA DA ESTRADA

Prof. Drº. Angela Guida – UFMS

RESUMO: Clarice Lispector, definitivamente, não é uma filósofa no sentido disciplinar do termo, logo, não produziu um compêndio filosófico, no entanto, sua produção ficcional nos oferece uma primorosa via de acesso ao pensamento meditativo e reflexivo. Evando Nascimento, apropria-se da expressão “pensante”, da qual Jacques Derrida fez uso para nomear a poesia de Baudelaire e nos convida a ler a escrita de Clarice Lispector como também uma possibilidade de literatura pensante ou de uma literatura que nos faz levantar a cabeça. É partindo desse lugar que pretendo contribuir com a homenagem aos 40 anos de morte e vida de Clarice ou, por que não dizer, uma homenagem aos 40 anos de uma escrita da presença-ausência. Na década de 50, Martin Heidegger proferiu uma conferência intitulada “Da serenidade” em homenagem ao 175º aniversário do músico alemão Conradin Kreutzer. Na referida conferência, o pensador alemão dissertou acerca da importância de se aproveitar um evento comemorativo para discutir o pensamento, ou seja, segundo Heidegger, em um evento comemorativo não é suficiente apenas fazer festa, elogiar os feitos e proferir belas palavras acerca do homenageado. Faz-se necessário aproveitar o evento de homenagem para fomentar o pensamento meditativo e reflexivo. Desse modo, neste evento de homenagem a Clarice Lispector, quero discutir em que medida e por que a produção ficcional da autora de A hora da estrela nos leva ao pensamento meditativo e reflexivo, isto é, qual o vigor desta escrita que tem nos levado para além da curva da estrada, para além de sua morte.

PALAVRAS-CHAVE: Pensante; Derrida; Heidegger; comemoração; presença-ausência

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Terceira Circular do Evento

IV COLÓQUIO DO NECC: A HORA DA ESTRELA CLARICE LISPECTOR (40 anos)

DIAS: 18, 19 & 20 DE OUTUBRO DE 2017
LOCAL: ANFITEATRO DO CCHS


TERCEIRA CIRCULAR

ATENÇÃO: Sai agora a TERCEIRA CIRCULAR trazendo, entre outras informações, a divulgação dos Eixos Temáticos do evento. Informamos que todas as condições necessárias para efetuar a inscrição no evento encontram-se divulgadas no blog do Evento (https://ahoradaestrelaclaricelispector.blogspot.com.br/).


Abro esta terceira e última circular querendo justificar os EIXOS TEMÁTICOS de forma textual. Sobre os 40 anos tanto da morte de Clarice Lispector, quanto de A hora da estrela, já é público e notório o conhecimento de todos os envolvidos quando o assunto é Clarice Lispector hoje. Sobre a crítica acerca da escritora, resta-nos pontuar o seguinte: se, por um lado, muita tinta já correu e escorreu sobre sua obra dentro e fora do país, por outro lado, vemos, passados esses 40 anos, que muito ainda se há por dizer sobre a obra da intelectual, inclusive propor uma releitura crítica da própria crítica realizada. Exemplo disso são os textos críticos arrolados na edição comemorativa dos 40 anos de A hora da estrela. Tais textos, grosso modo, perdem a oportunidade de ler o livro clariciano hoje, num Brasil que tem muito de igual e de diferente com relação ao contexto de 70. Nessa discussão, a obra de Clarice continua mais atualizada do que os textos críticos, quando estes poderiam reatualizar a obra, que já é uma jovem senhora. Sobre a política em Clarice Lispector é um assunto caro à intelectual e que foi pouco estudado a partir de sua obra. Exceto um belo texto de Silviano Santiago, o que temos é quase nada. Na verdade, quero entender que a boa crítica clariciana, bem como seus biógrafos, não se detiveram na questão do político em Clarice por estarem tão somente voltados para sua estética literária. Aproveitando a oportunidade, entendo que o pequeno grande livro A hora da estrela é um dos livros da literatura brasileira que toca mais fundo na questão da política no país. Sobre a escritora e seus amigos, entendemos que muitas relações de amizades podem ser estabelecidas, inclusive visando amigos da América Latina, como Borges e Cortazar. Sobre a aproximação entre Clarice e a crítica biográfica muito se há por ser feito nas novas leituras acerca da vida e da obra da escritora, uma vez que entendemos e já defendemos a idéia de que a gênese da criação literária da escritora tem um estofo biográfico. Nesse sentido, também entendemos que falta uma biografia cultural sobre a escritora, que contemple a relação vida e obra nas mesmas proporções. Sobre a intelectual Clarice Lispector entendemos que ainda se pode propor leituras críticas que destoem do modo como a intelectual foi lida até então. Sem desmerecer as leituras críticas feitas, o fato é que faltou uma página que inserisse e contextualize a escritora enquanto intelectual de uma época e da época atual. O relançamento da edição crítica de A hora da estrela neste 2017 foi a oportunidade para pontuar o papel e lugar da intelectual ontem e hoje. Sobre as várias personae da escritora talvez seja uma das abordagens mais injustiçadas, uma vez que sempre tivemos, além de uma Clarice ficcionista, uma Clarice tradutora, uma pintora entre tantas outras. Somente bem recentemente apareceram alguns poucos trabalhos sobre essas personae, enquanto outras Clarices, como a jornalista, foram bastante e bem estudadas. De uma forma ou de outra, o que faltou mesmo foi a crítica mostrar o atravessamento que uma prática teve na outra, ao invés de reforçar a importância de uma prática sobre a outra,  como aconteceu quando se privilegiou mais a prática literária de uma intelectual tão multifacetada. Sobre a mulher encadernada retoma a questão acerca das biografias sobre a escritora. Entendemos que por mais que haja várias biografias, inclusive como a da maior biógrafa da escritora  Nádia B. Gotlib, ainda falta um trabalho de base cultural, que tome a vida e a obra num campo compósito único  (SOUZA), como propõe a crítica biográfica cultural brasileira. Já sobre os trabalhos acadêmicos que contemplam a obra da escritora o que vemos são mais e mais pesquisas sendo realizadas e publicadas no meio acadêmico do país, de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Essa constatação mostra o quanto a obra clariciana continua sendo uma das produções literárias brasileiras mais estudada nas universidades do país, atestando, entre outras coisas, o quanto o projeto da intelectual sempre foi consistente e coerente dentro da tradição literária brasileira, mesmo quando dialogava com esta pelo avesso.


(A hora da estrela faz 40 anos. Faz 40 anos que Clarice Lispector morreu. Faz 40 anos que a mortífera Macabéa sobrevivia nos becos e vielas da cidade maravilhosa Rio de Janeiro. Naquele contexto, a cidade e o país como um todo viviam sob o regime da ditadura, repressão e censura. Corpos humanos simplesmente desapareciam da noite para o dia. Outros, como o da miserável nordestina Macabéa perambulava pelos cortiços, botecos e vielas imundas. Às vezes acompanhada pelo cantar de um galo no morro. Sempre acompanhada e em meio ao barulho ensurdecedor dos automóveis anunciando o progresso,o desenvolvimento,o crescimento exagerado da cidade. Entre Geisel e golpes a política brasileira, para variar, vai bem, obrigada, e até manda lembranças e beijinhos para o povo brasileiro. Macabéa continua em movimento e ouvindo de quando em quando a Rádio Relógio tocar a música O leãozinho, na voz inconfundível do jovem Caetano Veloso. Mas quarenta anos não se passaram em vão. Muita coisa no país mudou para melhor. Talvez a própria  literatura política da intelectual Clarice Lispector tenha contribuído para isso. Uma coisa é certa: o Rio de Janeiro continua lindo! O que continua feio é o que vem acontecendo neste seu contexto de agora: trabalhadores de uma vida inteira têm sua vida ameaçada: sem salário, sem dignidade, sem segurança e sem poder fazer nada! Os políticos locais comeram o direito/dinheiro do povo! O que acontece na política do Rio ilustra as decisões políticas tomadas no meio da madrugada, ou na calada da noite, em Brasília, na capital federal. Assim, somos todos nós, trabalhadores brasileiros, macabéas/macabeus mortos, cansados, desesperançados, sem futuro, sem dignidade, sem salário, sem comida, representantes de nossa própria miséria. O Brasil não é longe dessa falta de direito adquirido; antes, é o centro imperial desse vale tudo antipolítico. Quarenta anos depois, fico imaginado Macabéa nos dias atuais da cidade toda feita contra ela. Teria sido assassinada, como acontecera com Mineirinho. Ou teria perambulado pelas ruas da cidade maravilhosa, até cair exausta no chão, de fome, sede, sem trabalho, sem dignidade, sem dindim para pagar água e luz, nem muito menos para comprar um pingado num boteco qualquer de uma esquina qualquer de uma cidade qualquer...)

Em meio a estes tempos sombrios e TEMERosos da política brasileira de 2017, lembramos, talvez não por acaso, que o livro A hora da estrela, da intelectual Clarice Lispector, faz 40 anos de sua publicação (1977). Não por acaso porque, ressalvadas as diferenças, o contexto no qual a novela foi escrita também era repressivo, ditatorial e sumariamente desalentador. Assim, valendo-se de sua arma mais poderosa, a linguagem literária, e já talvez antecipando o que Bhabha viria a nos ensinar depois de que narrar é narrar a nação, a intelectual tratou, sem dó nem piedade, de uma realidade política pouco explorada ainda pela narrativa literária brasileira. Apesar de sua participação na passeata dos 100 mil e de algumas crônicas de protestos, incluindo até mesmo alguns pequenos textos considerados ficcionais como é o caso do conto “Mineirinho”, foi por meio de seu compromisso com a linguagem que Clarice soube se antecipar e dar a melhor resposta possível de como captar a realidade política daquele momento histórico do país. Mesmo passados 40 anos de sua publicação, o livro A hora da estrela traz e apresenta-nos um projeto intelectual arrojado que, entre outras leituras, ajuda-nos a compreender melhor essa realidade política brasileira que não nos cansa de surpreender com suas atrocidades, gatunos e malas.

Além da homenagem prestada ao livro, o NECC, ao propor a temática A HORA DA ESTRELA CLARICE LISPECTOR, também presta homenagem aos 40 anos de morte da escritora, ocorrida naquele início de dezembro escaldante de 1977. Quarenta anos sem Clarice são correlatos a quarenta anos com Clarice, já que, em se tratando da crítica brasileira, e até mesmo dos estudos feitos no exterior, essa crítica nacional não tem feito outra coisa nestes últimos 40 anos senão elevar a escritora e sua obra ao mais alto patamar já alcançado por uma intelectual mulher dentro do projeto que sustenta a literatura brasileira.

Justificada e tornada pública a proposta temática do IV COLÓQUIO DO NECC, passamos a algumas informais prévias e gerais acerca da organização e participação no evento.

O CONVITE, inicialmente, é feito a todos os interessados, quer seja como participantes, quer seja como apresentadores de papers. Visando a que todos os interessados possam efetivamente participar, trazemos algumas informações necessárias:

1- É condição sine qua non que todo trabalho trate da obra ou vida da escritora, mencione textualmente sua obra ou aluda diretamente à produção intelectual da escritora.

2- Acadêmico de Graduação pode participar com apresentação de trabalho, desde que tenha algum tipo de bolsa científica e o trabalho seja em coautoria com o professor responsável e respectivo orientador do acadêmico;

3- Pós-graduando, nível mestrado e doutorado, pode participar com apresentação de trabalho, desde que em coautoria com seu respectivo orientador de pesquisa;

4- Professores em geral, de preferência que tenham defendido trabalhos acadêmicos sobre a obra de Clarice Lispector;

5- Professores em geral, cujo trabalho a ser apresentado seja sobre Clarice Lispector, ou aluda à sua obra por meio de uma perspectiva comparatista, impreterivelmente;

6- Pesquisadores em geral da obra da Escritora;

7- Interessados em geral cuja proposta passe diretamente pela obra, vida ou fortuna crítica da escritora.

8- Participantes em geral, sem apresentação de trabalho, terão apenas que se inscrever no momento oportuno, por meio de ficha a ser disponibilizada no momento certo.

EIXOS TEMÁTICOS SUGERIDOS:
1-      Clarice Lispector 40 anos depois
2-      A hora da estrela 40anos depois
3-      Clarice Lispector e a crítica
4-      A política em Clarice Lispector
5-      Clarice Lispector e os amigos
6-      Clarice Lispector e a crítica biográfica
7-      A intelectual Clarice Lispector
8-      As várias personae de Clarice Lispector
9-      A mulher encadernada Clarice Lispector
10-  Trabalhos acadêmicos sobre Clarice Lispector

ATENÇÃO: FICHA DE INSCRIÇÃO, VALOR DE INSCRIÇÃO, NORMAS BIBLIOGRÁFICAS DO RESUMO ENCONTRAM-SE NO BLOGUE A HORA DA ESTRELA CLARICE LISPECTOR


[...] o que me provoca e inspira para a vida:
estrela acesa ao entardecer.

Um sopro de vida.
ATENCIOSAMENTE,

Prof. Dr. Edgar Cézar Nolasco
COODENADOR DO NECC E DO EVENTO